Para quem não sabe desenhar uma linha recta com uma régua, geradores de imagens como o DreamStudio (stability.ai), o Midjourney.com ou o Dall-E (openai.com) são a melhor coisa desde o pão fatiado. Usar inteligência artificial (AI) para fazer bonecos parece corriqueiro, mas levanta questões complicadas.
É o fim da Arte? Os criadores visuais estão divididos em duas facções: os que vêem estas ferramentas como uma ameaça e os que as vêem como… uma ferramenta. A resposta: não. Conteúdo não é Arte, embora haja conteúdo com qualidade artística. Estes geradores fornecem conteúdos muito vistosos, que podem passar por Arte, se lhes derem esse contexto. Ou seja, vamos ter mais coisas bonitas e estranhas para apreciar. Autoria e propriedade intelectual são outros dos assuntos em debate.
Os artistas visuais estão condenados? Não, mas vão ter de alargar as suas competências. Os maiores prejudicados serão as empresas de stock images, como a Shutterstock e afins. Para quê procurar uma imagem se a podemos criar em segundos, usando os mesmos termos de pesquisa?
A AI percebe o mundo que representa? Esta questão é levantada por Gary Marcus no seu Substack e que, para mim, serve como prova da falta de consciência da AI. Não, já que muitos dos outputs são acidentalmente surrealistas: não respeitam as leis da física, nem a lógica da realidade em que vivemos. Se sugerirem à AI ‘uma chávena de café esburacada’ irão ter essa imagem, mas sem que o café esteja a verter pelos buracos.
Estas imagens são perigosas? Sim, se acreditarmos em tudo o que está na Internet. Ou seja, o perigo não está nas imagens, mas no público. Como sabemos, as pessoas acreditam em tudo. Há o risco de serem usadas em mentiras elaboradas, mas isso é um problema que já vem desde o primeiro contador de histórias. Voltamos ao papel de aprendiz de feiticeiro, com todos os riscos que isso implica.
Aplicações mais avançadas da AI trazem questões ainda mais complexas. Para já, sou feliz por fazer bonecos incríveis apenas com palavras.