A guerra moderna tem como principal frente de batalha a informação e a desinformação. Num mundo globalmente conectado, a opinião pública dos países envolvidos num conflito, bem como de todos os outros que o podem influenciar, é hoje os alvo primário para o sucesso militar.
O actual conflito no Leste da Europa, muito mais que uma operação especial, é uma guerra desigual entre um exército invasor com mais do dobro do potencial bélico do invadido. Diziam os intendidos em estratégia militar que, em pouco mais de uma semana, o exército russo conseguiria dominar todos os pontos críticos da Ucrânia. Aparentemente, até agora, os avanços foram bastante mais lentos e tímidos que o originalmente previsto.
Quiçá, essa situação se deva também à desigualdade que existe no protagonismo dos líderes de ambos os países. De um lado, vemos um velho e isolado agente do KGB; do outro, um experiente ex-actor e animador capaz de utilizar eficazmente o potencial dos meios de comunicação nacionais e internacionais, bem como de todas as redes sociais. Este desequilíbrio transmitiu, claramente, uma imagem deste conflito que impulsionou tomadas de posição diferentes da comunidade internacional das que foram assumidas em conflitos muito similares, num passado próximo.
No final dos conflitos anteriores, um dos maiores espólios dos vencedores foi a capacidade de fazer o compêndio dos acontecimentos unicamente à luz do seu ponto de vista. Mas, hoje, a capacidade de armazenar informação é virtualmente ilimitada e a forma mais segura de evitar que conflitos como estes se repitam é recolher, e reter, todas as fontes de informação que provocaram e acompanharam o incidente.
A capacidade de entender verdadeiramente os acontecimentos está intrinsecamente relacionada com as fontes de informação disponíveis. Para podermos apurar os factos com precisão, nada melhor que dispor do máximo e das mais diversas fontes de informação possíveis.
Da mesma forma como condeno o uso de deepfakes em ataques cibernéticos feitos a meios de comunicação ucranianos, não posso deixar de condenar também a actual censura internacional que está a ser feita aos meios de comunicação russos. Censurar o acesso a qualquer fonte de informação, por mais manipulada que seja, não é uma atitude digna de uma comunidade que se diz livre, aberta e disponível para ouvir todas as opiniões. Esta legitima também uma acção recíproca por parte de quem oprime e censura toda a comunicação externa vital neste momento, ao povo russo.