Os Backrooms são um conjunto de salas vazias alcatifadas numa cor monótona, ligadas por corredores que não vão dar a lado nenhum, sob o zumbido de luzes fluorescentes. É também uma experiência secreta, como no Lost, mas dentro de um edifício. Descubram como esta estética diz muito sobre a nossa era.
‘Limiar’ significa ‘ponto de transição’, a fronteira da percepção. Sempre nos rodeámos de espaços e realidades liminares, desde os contos de fadas a epopeias, do cinema à pintura – Hansel & Gretel, Odisseia, Overlook Hotel, ou os quadros de Edward Hopper sem as pessoas. Um espaço liminar é a terra de ninguém entre o familiar e o desconhecido.
O interesse na estética liminar cresceu na última década em fóruns online, com a captura fotográfica de espaços reconhecíveis, muitos de cariz funcional, mas sob uma perspectiva de estranhamento: centros comerciais vazios ou abandonados, corredores de escolas ou zonas de serviço de edifícios, em filtro monocromático e vazios de pessoas. Quanto mais parecidos forem com o cenário de um jogo de computador dos anos noventa, melhor. São áreas que, sem a presença humana, perdem a familiaridade e a sensação de segurança.
Marc Augé, em 1992, descreveu os não-lugares como locais de transição entre pontos da nossa realidade, mas os espaços liminares vão além desse conceito: são portais para realidades diferentes.
The Backrooms é uma ficção colectiva fascinante. De creepypasta a série no YouTube, é a história de uma dimensão paralela de cenário monótono onde o perigo espreita em cada corredor, numa narrativa fragmentada que só poderia existir na Web – o espaço liminar, por excelência.
Depois de dois anos de espaços públicos esvaziados pela pandemia, que fascínio é este pela estética liminar? Penso que o ponto de transição passou a ponto de fuga para uma geração que não se enquadra nesta realidade cada vez mais irreal, cada vez mais no limite. O seu destino é a Plataforma 9 3⁄4, o Metaverso ou (inserir nome de um popular MMORPG).
Qualquer sítio, menos aqui.