A Inteligência Artificial (AI) é a tecnologia que mais irá influenciar a nossa vida nos próximos anos, para o bem e para o mal. Mas será que percebemos o que é a AI? Por vezes, parece que a confundimos com outras coisas. Segundo um debate recente, até a própria AI percebe melhor o seu papel que nós.
Houve alguma comoção nas redes por causa de um robot com cara de pessoa. Um exagero, como sempre. Lá por um bocado de plástico se moldar em expressões faciais que nas pessoas traduzem emoções, não significa que as tenha. O robot é um fingidor que finge as emoções que deveras não sente.
Esta necessidade de Inteligência a partir do silício é deprimente. A questão é que confundimos Inteligência com inteligência emocional e, pior, com consciência. Há um ano falei do fracasso intelectual e prático que é antropomorfizar a tecnologia: é limitador moldá-la à nossa imperfeita imagem.
A AI tem outros poderes muito mais interessantes e perigosos que ter emoções, como dar à ficção a forma de facto com deep fakes e media manipulada. E também a comunicação autónoma baseada em corpus linguísticos de áreas específicas – finanças, desporto, meteorologia – previsões estatísticas e gestão de sistemas complexos. Mas não podemos esperar consciência, moral ou ética de uma ferramenta.
Nem a própria ferramenta quer ter essa responsabilidade. O debate de final do curso de AI para Negócios da Oxford Business School deste ano contou com Megatron, uma entidade AI desenvolvida pela Nvidia. Megatron “leu” 63 milhões de artigos e 38 GB de posts no Reddit para desenvolver a sua “consciência” e disse algumas coisas interessantes: como ferramenta que é, nunca será responsável pelo seu uso, e que a informação, mais que produtos, será o motor da economia do século XXI.
Disse mais coisas giras, mas duvido que acredite no que disse. A AI, por mais caretas e discursos que produza, não é consciente do que faz. É um automatismo, com a sensibilidade de uma chave inglesa. Não esperemos mais que isso. Para já.