Centenas de entusiastas “sonham” em conjunto um espaço colaborativo de interacção em ambiente de realidade virtual e ninguém quer saber. Mas, quando um magnata da tecnologia fala sobre isso para aliviar a pressão que recai sobre outros produtos do seu portfólio, de repente já é uma tendência e uma óptima oportunidade de negócio.
Não me interpretem mal. Como saudosista do Second Life, turista no VRchat e aficcionado de Ready Player One, não poderia deixar de ficar fascinado com o potencial de um metaverso realmente universal. Mas vejo com algum cepticismo quando empresas tecnológicas falam de planos a dez ou quinze anos, quando elas próprias ainda não têm essa idade.
Estão a tentar vender-nos a ideia de que conseguem criar um protocolo aberto, universal e independente para gerir uma Web 3.0 formada por um único e megacomplexo mundo virtual. Contudo, neste momento, essas mesmas grandes empresas não conseguem ainda chegar a um acordo em relação ao sistema de comunicação dos equipamentos nas nossas casas (sim, ‘matter’ estou a falar de ti).
Mas, voltando ao “sonho” do metaverso, referimo-nos a uma vasta experiência multiplataforma (mais ou menos imersiva) em que todos podemos interagir de forma colaborativa numa mesma realidade virtual, não só para nos divertirmos, jogar e descontrair, mas também para trabalhar e fazer compras.
Quando ainda não existe uma única linha de código escrita, ou qualquer acordo protocolar de desenvolvimento, que garantidamente faça parte do metaverso, alinham-se já centenas de stakeholders, empreendedores e, especialmente, vendedores deste admirável mundo novo. Por isso, fica a minha recomendação de contenção aos entusiasmados investidores que querem comprar já uns quantos metros quadrados na Lua no metaverso: ainda vamos ter de esperar muito até podermos, realmente, definir como será gerida essa nova realidade e quem a vai gerir.
A Internet, como a ‘rede das redes’, foi o fruto do espírito colaborativo dos entusiastas da tecnologia. O metaverso, como está a ser agora anunciado, é o futuro campo de batalha dos gigantes tecnológicos em busca dos dividendos do seu potencial comercial. Este é o principal entrave ao sucesso do projecto.