Tenho medo de pensar em voz alta, não vá o meu telemóvel ouvir e recomendar um produto que nem eu sabia de que precisava. Ou da orientação de um guru, de uma religião, de um personal coach, de um partido político ou de um esquema para ganhar dinheiro depressa. Acham que estou a ser paranóico? Leiam o resto.
Tive recentemente uma mudança na minha vida, que divulguei a meia dúzia de pessoas e sempre de viva voz. Bem, há um cartão de uma superfície comercial que também ficou a saber, mas duvido que seja por aí: quase de seguida, A Rede Social perguntou-me se queria actualizar o meu perfil. Mas só na situação que mudou.
Semanas antes, um amigo mostrou-me no café um produto que não conhecia. No dia seguinte, O Mensageiro da Rede Social apresentou-me um anúncio a esse produto. Nada disto é surpreendente, já falei aqui do neworgans.net, que recolhe histórias destas. Sei também que os Android monitorizam os hábitos dos utilizadores e que a localização do nosso telefone é um mercado que vale milhões. Mesmo assim, o desconforto é grande.
O que me incomoda é a invasão do meu espaço privado para fins comerciais. Não digo políticos, porque a política é o fantoche sobre a mão do lucro desmesurado. Tijmen Schep, autor do livro Design My Privacy, pergunta se podemos ser livres numa sociedade em que a vigilância permanente é o modelo de negócio.
Para Schep, a economia baseada na nossa reputação digital está a transformar-nos em conformistas, cheios de medo das consequências que nos pode trazer. A China já tem uma tabela para isso e parece que a banca e os seguros pagam muito bem pela nossa informação pessoal.
Não postar a minha opinião no Twitter sobre um tema polémico é uma escolha pessoal. Mas, essa opinião, expressa em privado, afectar a minha experiência é pidesco.
Tive a sorte de viver grande parte da minha vida no breu da economia pré-social-digital. E os miúdos que cresceram nela? Como estão perfilados nas bases de dados que tudo recolhem? Talvez a resposta surja nas sugestões do algoritmo.