Com um mês decorrido sobre as recentes alterações ao regime de IVA de compras extracomunitárias, é já claro que terei saudades da figura do antigo despachante que me guiou durante muitos anos no labirinto aduaneiro e alfandegário português, e que o espaço económico europeu atirou para o desemprego ou para a reconversão profissional.
É já bastante apreciável o número de pessoas que me tem feito chegar queixas e lamentos sobre os valores de cêntimos de compra inicial, aos quais são somados direitos alfandegários, taxas de apresentação e o bendito IVA. Será para mim sempre e eternamente um mistério como é que um objecto de 76 cêntimos chega ao fim do dédalo da alfândega com uma factura a pagar de 16 euros. Evidentemente que podem sempre subsistir erros de atribuição de código de pauta aduaneira, mas que me parece que o comércio online vai sofrer uma ligeira alteração climática em arrefecimento global, lá isso parece…
As compras de impulso, de acessórios diversos, alguns francamente inúteis mas que nos pareceram tão interessantes numa loja chinesa online, vão ser repensadas (o que em muitos casos não é mau), mas terão a virtude de fazer o consumidor fazer contas, aprender o que é uma classificação aduaneira e procurar lojas que tenham já mecanismos de liquidação de IVA na origem. E, ainda assim, ter uma eventual surpresa quando aquela capa de de silicone brilhante aparecer classificada como um objecto de luxo e transformar-se num bilhete de lotaria tributária.
É que basta olhar para a documentação que acompanha um destes processos “mais simples” de desalfandegamento para não ter muita vontade de repetir a experiência.
A outro nível, a crise dos componentes electrónicos também já se faz sentir em território nacional. A maioria dos fabricantes começa a ter prazos de entrega de hardware bastante alargados (ou bastante mais largos que o normal), e mesmo na compra de componentes a granel, seja para hobby ou para reparação profissional, já se notam bem algumas dificuldades no mercado, com a oferta e procura a ditarem modificações significativas nos preços. É o tal mundo global a funcionar, que parece funcionar melhor para nos chatear o juízo do que para o fazer descansar.