O Audacity é uma das mais antigas e populares ferramentas de código aberto. Este editor de áudio devia vir instalado em todos os computadores, mas, se viesse, a comunidade open source provavelmente não lhe iria achar grande piada. Daí, não é de estranhar o ‘Fork You’ que fizeram aos seus novos donos.
Instalamos dezenas de apps por ano nos dispositivos que andam connosco para todo o lado e analisam toda a nossa actividade, sem olhar à origem ou propriedade. Mas bastou um software ser comprado por uma empresa russa para que a comunidade de utilizadores fosse para os fóruns mostrar a sua revolta.
O software em causa é o Audacity, um editor de áudio que instalei em todos os meus PC desde 2005, a par de outros editores de áudio mais avançados. É simples, é leve, faz o trabalho que é preciso. E é grátis.
O Audacity foi comprado pelo Muse Group, os donos do MuseScore, Tonebridge, Ultimate Guitar, e outras ferramentas usadas por músicos do mundo inteiro, algumas delas open source. Ao informar que o Audacity iria recolher dados como a morada IP, características da máquina e sistema operativo para melhorar o programa e por questões legais, a empresa lançou um acorde dissonante entre os cem milhões de utilizadores do programa. Mesmo mantendo o programa grátis e seguindo as diretivas da UE.
A comunidade e alguns media propagaram a ideia de que os dados dos utilizadores iriam parar às mãos de agentes russos. Seguiu-se um boicote e uma divisão – fork – no desenvolvimento do código, dando origem a um novo Audacity.
Será que os utilizadores têm razão? Os nossos dados são sagrados e são abusados todos os dias. A maioria das apps recolhe esta informação mas, talvez por ser o Audacity, a reação foi maior e uma acção empresarial normal virou uma batalha de direitos digitais.
Provou-se que as redes têm o poder de unir pessoas de todo o mundo numa causa, difundir ideias certas e erradas, dar alternativas, pressionar empresas, e só o tempo dirá se tinham razão. Para já, o Audacity fica no meu PC.