O que significa o Destino na era digital? Pensem: se o Destino é uma série de acasos diversos que levam a um resultado conclusivo, o que acontece quando a nossa vida é moldada por algoritmos cujo objectivo é criar uma serendipidade funcional, desenhada para nos predispor para uma atitude consumista?
Li num artigo que a petrolífera americana Exxon tem anúncios em redes sociais dirigidos a liberais, onde apregoam o seu esforço ecológico; e outros para conservadores, onde surgem como defensores dos combustíveis fósseis. Se vos parece contraditório, digo-vos que é apenas marketing básico: conhece o teu público alvo e adequa a tua mensagem aos seus interesses. Como os anúncios surgem nas timelines de utilizadores com um perfil específico, esta contradição não é apanhada pelo radar do senso comum, o que é algo cada vez mais raro por estes dias.
Os algoritmos definem quem vê o quê e, consequentemente, como vemos o mundo – individualmente e cada vez menos em conjunto. Criando funis – é um termo do marketing digital – para chegar aos utilizadores, a visão da realidade também é afunilada. O objetivo é gerar uma ação: comprar produto X, votar no candidato Y, criar medo Z (para que se empenhem mais nas ações X e Y). A fórmula é: mais (atenção + emoção = resultados).
Jaron Lanier, que trabalhou para a Google e Facebook, e autor do livro Ten Arguments for Deleting Your Social Media Accounts Right Now, disse que as redes foram desenhadas para «turn people into assholes». Uma ideia com que é difícil discordar.
O mundo digital, por ser matemático e criado por gente muito inteligente, aplica as regras da Teoria do Caos, mas sem os acasos. Nada é aleatório, mesmo que o pareça. Conduzem-nos como gado, dividido em grupos para uma gestão mais eficaz, mas empurrando-nos a todos para a mesma porta.
Os algoritmos oferecem vantagens enormes e riscos maiores: o fim da privacidade, da liberdade, do aleatório. Uma forma bovina de vida, sob um destino desenhado “só para nós”. O caos com uma causa, sem acasos.