«Gostaria de dizer ao Facebook: isto é a Austrália. Se querem fazer negócio aqui, terão que o fazer pelas nossas regras». Este momento ‘this is Sparta’ foi protagonizado pelo primeiro-ministro australiano Scott Morrison, em Fevereiro. Será que ele se lembra de como acabou o filme? Acho que não.
A batalha entre os gigantes da tecnologia e os governos mundiais começou no início do ano, quando a Austrália decidiu que o Facebook e a Google deviam dividir o seu quinhão de lucros com os media informativos locais. Estas duas empresas ficam com 81% das receitas publicitárias, sobrando os restantes 19% para os media informativos. Num mercado de seis mil milhões de dólares (presumo que australianos), é fazer as contas.
O drama do modelo de negócio dos órgãos de comunicação social não é de agora. Primeiro, foram os conteúdos que toda a gente podia ver sem pagar. Depois, perceberam que as redes sociais lhes davam alcance, visibilidade e deixaram-se ir. Mais afluxo de utilizadores nos sites dava mais impressões de publicidade. Mas, quando os anunciantes passaram a usar Google e Facebook Ads, esse rendimento foi-se.
A divisão dos lucros faz sentido: se pensarmos que Facebook e Google dependem de conteúdos que não produzem, seria lógico pagarem aos criadores. Mas, como já vimos noutras ocasiões, estas empresas só pensam no verde. Não o das plantas, mas o do dinheiro.
Zuckerberg, o bully tranquilo da Internet, foi implacável. Primeiro, bloqueou os sites informativos australianos, depois foi negociar directamente com o aglomerado de Rupert Murdoch, que é uma espécie de Palpatine dos media. As corporações ajudam-se e os mais pequenos afundam-se. No meio, os utilizadores ficaram num buraco negro informativo. E a democracia também.
Os gigantes tecnológicos controlam não só o que fazemos, vemos e queremos, mas também o que podemos fazer, ver e querer. A decisão da Austrália teve o apoio de outros governos, incomodados com tanto poder. Se calhar, já vão tarde.
Como é que acabou o filme mesmo?