Uma colagem digital do artista Beeple, com o valor de 58,4 milhões de euros; o GIF de comemoração do décimo aniversário do Nyan Cat, vendido em leilão por cerca de 505 mil euros; e dez vídeos e imagens da cantora Grimes que geraram 5 milhões de euros. Estes são exemplos de NFT, activos digitais não-fungíveis (mais correctamente, infungíveis), que vivem na blockchain, a tecnologia que atesta a proveniência e a propriedade destes itens digitais.
Vamos começar por descodificar o que se entende por ‘tokens’: podem ser fichas, caso estejamos a falar do mundo físico, mas no ambiente virtual referem-se a activos não materiais ou ficheiros. Já ‘infungível’ significa que é único, ou seja, não pode ser substituído por nada. Uma obra de arte como a Mona Lisa é infungível porque não pode ser trocada por outra igual; já uma bitcoin ou uma moeda de um euro são fungíveis porque podem ser trocadas por outras exactamente iguais.
Resumindo, um NFT funciona como uma espécie de certificado (metadados) que fica ligado a uma peça de arte, vídeo, jogo ou outro activo sempre digital e que estabelece que esse item é original, além da sua titularidade.
Como funciona?
Os NFT têm por base a blockchain, a tecnologia que está ligada às criptomoedas, como a Bitcoin, e que é uma base de dados descentralizada usada, principalmente, para verificar transacções, como o caso das moedas digitais, embora seja possível inserir praticamente qualquer documento na blockchain. Este registo não pode ser alterado ou apagado e essa é a grande mais-valia da tecnologia.
Assim, um NFT é um registo único na blockchain, imutável, transmissível, que pode ser verificado publicamente. Para já, quase todos os NFT usam a Ethereum (da qual faz parte a criptomoeda Ether), mas existem outras plataformas, como a Flow ou a Wax. Para criar um NFT é preciso ter o activo, uma wallet na blockchain que se vai usar, por exemplo na Ethereum, e criar o NFT, o que se designa de ‘mint’, numa plataforma própria de NFT, como a Mintable.
Vantagens e problemas
Os NFT têm benefícios claros, já que os donos de um desses activos têm uma espécie de certificado de propriedade intelectual, o que garante sua autenticidade e unicidade. Já quanto aos criadores, sejam artistas, músicos, marcas, influenciadores ou desportistas, possibilita que façam dinheiro a vender bens digitais e sem intermediários. Além disso, permite definir royalties para o criador original, em caso de revenda (de forma automática), fazer transacções sem burocracias e verificação de uma entidade reguladora.
O grande problema ligado aos NFT é a questão da pegada ecológica, já que as transacções realizadas na blockchain, designadas por ‘mineração’, consomem muita energia eléctrica. Para se ter uma ideia do que se gasta, a pegada carbónica associada ao NFT Space Cat, um ficheiro GIF, corresponde à utilização média de electricidade de um cidadão da União de Europeia durante dois meses, segundo o site The Verge. Esta questão terá de ser resolvida em breve, para que os NFT mantenham a sua popularidade.