O ano passado terá sido, provavelmente, aquele que, em Portugal, mais se falou de saúde mental. Contudo, para a Nevaro esta é uma preocupação antiga que se concretizou em negócio, com uma solução adaptada à pandemia e uma app móvel para gerir o burnout. Rita Maçorano, co-fundadora e CEO, explica que tudo nasceu no mestrado integrado em Engenharia Biomédica e Biofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que frequentou com Francisca Canais, co-fundadora e COO da Nevaro. Aqui, tiveram uma cadeira de Neurociências, leccionada por Hugo Ferreira, o terceiro fundador da startup e actual CSO. «O projecto inicial começou nesta cadeira, onde os alunos foram convidados a realizar um género de hackhaton, em que recorressem a tecnologia ligada às neurociências, para responder a algum desafio de saúde da sociedade actual».
Foi assim que decidiram «aliar a potencialidade das tecnologias de medição dos sinais cerebrais, e também cardíacos, à gamificação, com o intuito de contribuir para a melhoria da terapêutica de doenças neuropsiquiátricas». Rita Maçorano revela que esta é uma área que «peca bastante pela falta de métricas objectivas de quantificação do progresso dos pacientes», sendo ainda uma área «bastante atrasada tecnologicamente». O projecto inicial concretizou-se num «protótipo de um jogo de realidade virtual para complemento ao tratamento de fobias, nomeadamente de alturas, recorrendo a uma headband que mede os sinais cerebrais da pessoa a cada instante», revela Francisca Canais.
Adaptação e inovação
As empreendedoras salientam que «em paralelo» ao projecto de mestrado, «o bichinho do empreendedorismo já estava a fervilhar» e que avançaram com «actividades de desenvolvimento de produto e da tecnologia». Desta forma, a empresa foi oficialmente criada em 2020, em plena pandemia, altura em que estavam a fazer «testes-piloto da solução com vários hospitais e clínicas, como o Hospital da Luz» – no entanto, estes testes foram interrompidos de forma forçada «sem previsão de recomeço». Depois de criada a startup, a equipa começou de imediato a trabalhar em mais ferramentas como explica a responsável: «Adaptámos a nossa plataforma de aquisição dos sinais fisiológicos para o caso desta nova doença e desenvolvemos, assim, no espaço de um mês, e contando com a ajuda voluntária de estudantes da faculdade, uma plataforma de auto-monitorização do quadro sintomatológico da COVID-19, que apelidámos de ‘Nevaro4Covid’. Esta plataforma foi disponibilizada gratuitamente a vários lares e residências seniores, com o intuito de melhorar a gestão e monitorização da pandemia».
Por outro lado, e uma vez que a actual situação originou um «elevado aumento das taxas de condições ou distúrbios de saúde mental», a Nevaro fez «uma mudança interna no roadmap». Rita Maçorano explica como: «Apercebemo-nos de que as actuais necessidades na área da saúde mental passam também muito pela sua prevenção e gestão. A par das elevadas taxas de burnout, a necessidade de ferramentas preventivas começou a ser cada vez mais notória. Foi por esta razão que adaptámos as nossas soluções, e desenvolvemos a app móvel Holi para gestão da saúde mental». Esta aplicação «recorre aos sensores do telemóvel, assim como a um modelo de avaliação holística do bem-estar e nível de burnout da pessoa, para quantificar e personalizar o progresso e caminho da pessoa na gestão da saúde mental», diz Francisca Canais. A Holi está, de momento, «em fase de piloto em várias empresas» e as organizações que queiram experimentar a solução só têm de contactar a startup.
Futuro promissor
A CEO esclarece que, «a curto prazo», a Nevaro quer «fechar a primeira ronda de investimento» e explica para que servirá o valor obtido: «Permitir-nos-á concretizar o nosso crescimento no mercado empresarial de workplace wellbeing. A longo prazo, o objectivo é expandir para a saúde mental clínica, através da nossa solução Holi de saúde digital para complemento à terapêutica convencional». Além disso, a internacionalização está nos planos, como refere Francisca Canais: «Neste ano queremos concretizar as nossas primeiras vendas em Portugal com a app Holi, sendo que planeamos expandir para o mercado italiano no fim do ano». A escolha deve-se ao facto de Itália ter «já bastante desenvolvido mercado de soluções de workplace wellbeing: é o país com a sétima maior quota de despesas nesta área, a nível mundial, e as empresas e seguradoras possuem já vários sistemas de reembolso e incentivos para este tipo de soluções». Posteriormente, virá «o mercado alemão», já que é «o maior em despesas nesta área a nível europeu» e onde a startup «tem já várias ligações».