O falecido Douglas Adams, senhor de uma ironia fina, apreciada por uma vasta legião de leitores, era homem para dedicar várias páginas de sumarento humor à decisão da Apple em ter deixado de incluir o carregador na caixa do novo iPhone… De acordo com um artigo maravilhoso que escreveu, chamado Little Dongly Things, o mundo está cheio de “zingarelhos” (tradução muito liberal de minha autoria), que nos enxameiam as gavetas e que para nada mais servem que fazer-nos perguntar: «De onde raio era isto?» quando necessitamos de um.
E, como nunca sabemos, como temos medo que os 6 Volt afinal sejam 12, ou que o positivo ao centro esteja na malha, vamos à loja e compramos mais um zingarelho que há-de acabar os seus dias no fundo de uma gaveta. Pois bem, Douglas, aí vão os novos utilizadores de iPhone para as lojas comprar um zingarelho novo em nome da sustentabilidade.
Mas espera aí, Aniceto, os senhores disseram que se podiam utilizar os carregadores dos telefones anteriores. Sim, é verdade, podem. Se souberem de quantos Watts é o carregador de que precisam. Se tiverem o cabo certo (a Apple assume que todos temos cabos USB-C, o que está ainda longe de ser verdade) porque os transformadores anteriores têm todos um USB tipo A. Mas hey!, são só vinte e tal euros e compras um tijolinho novo para alimentar o telefone. Lá se vai a sustentabilidade, n’é? Já não bastava a questão da potência em Watts (que quase ninguém sabe) como vos desafio a tentar ler a potência que está gravada num carregador Apple ao fim de três ou quatro anos de uso (vão lá que eu espero…). Não conseguem? Está tudo esborratado e não se consegue ler nada? Então, se calhar, temos de meter mais uma parcela no orçamento.
Obviamente, que ‘sustentabilidade’ é uma palavra bonita, funciona lindamente na consciência ecológica do consumidor, permite à Apple meter numa palete mais umas centenas de telefones que anteriormente, porém sem que ninguém o sinta na carteira. E afinal o que são vinte euros? Não vamos viver o tempo suficiente para que um dia compremos um pequeno voucher que será a caixa do produto – o resto compraremos opcionalmente. Sempre em nome da sustentabilidade. A deles, provavelmente.