Do ‘content is king’ ao ‘personal data’, este século encarregou-se de transformar em ouro tudo o que é informação. Mas enquanto a CNPD andava em pareceres e o Governo nas necessárias burocracias do decreto-lei para consubstanciar a validade da app Stay Away Covid, as semanas foram passando e os focos crescendo. José Manuel Mendonça, presidente do INESC-TEC, que teve uma equipa de programadores durante largas semanas a desenvolver a app, compreende a «expectativa» e percebe que «seja até desesperante» que esta app «ainda não tenha sido disponibilizada».
À altura em que escrevo, a app está em testes de stress – seja bem-vinda a este nosso novo real – mas, em breve, já estará a stressar outros: os que receberam a notificação de que estiveram perto de alguém infectado e se devem recolher, e/ou os responsáveis pelos servidores, se a app tiver a adesão que merece por parte dos portugueses.
Na Irlanda, por exemplo, no dia de lançamento da app, 10% da população instalou-a. Diria que é de acalentar que por cá façamos o mesmo. Aliás, este atraso na implementação desta solução tem o paralelismo no suposto plano tipo Marshall de que a Europa precisa. Todos sabem da sua imperiosa necessidade, mas enquanto se decide se se avança ou não há sempre mais uns milhares no desemprego e umas centenas que morrem.
Já na Rússia, país que nas últimas semanas mais foi afectado pelo crescimento do número de casos da COVID-19, a informação mais valiosa deixou de ser a financeira ou os dados pessoais; os hackers, dizem, apontaram armas (servidores e seus terminais neste caso) à espionagem industrial em busca de informação sobre o desenvolvimento das vacinas.
Ou seja, a doença pode ser recente, mas num mundo onde uma nova guerra fria comercial entre a China-USA é secundada por uma Rússia que aposta as fichas todas na guerra cibernética, a Europa não deveria ter tempo para se debater com crises de meia-idade.