Quando é que surgiu esta necessidade de sermos eficientes, motivados, produtivos? Quando é que decidimos ser autómatos multitarefa quando mal conseguimos lidar com uma? Por questões profissionais, tive de escrever sobre produtividade nos últimos meses e, depois de muita análise, descobri o segredo. Dois segredos, aliás.
O primeiro segredo é que nos andam a enfiar um monte de tretas pela goela abaixo. Sim, é importante estar motivado, é importante saber organizar prioridades, rentabilizar o tempo, estar em forma, ler mais livros, ser criativo, estar num espaço arrumado, meditar, fazer mais mais mais. Existem várias apps para cada uma destas questões. O que os gurus da produtividade omitem é o ‘porquê’ de ser mais produtivo. E muitos de vocês vão responder «para fazer mais coisas», quando a resposta de uma pessoa saudável é «para poder não fazer nada».
Esse é o segundo segredo. Para serem mais produtivos precisam de tempo para não o ser, de tempo para descansar, para jogar à bola na rua, para ignorar o smartphone durante horas. Para ver se há árvores de fruto na vizinhança.
No álbum OK Computer (1997) há uma faixa chamada Fitter Happier, que não é bem uma canção, como se os Radiohead tivessem decidido não fazer uma de propósito. Ouçam-na, agora que são adultos.
A verdade é que não tinha macieiras na vizinhança e tinha medo de alturas quando era miúdo. Mas cresci sem a culpa de não ser produtivo, e aproveitei os dias de verão o melhor que podia, sem ser escravo de um dispositivo digital e das pessoas que estão lá dentro.
Quando é que perdemos? Quando os computadores passaram a mandar em nós em vez de sermos nós a mandar neles. Mas estamos em forma e felizes. Certo?