Quando as gerações passadas escreviam um diário pessoal, normalmente guardavam-no num local secreto. Actualmente é muito mais comum ver esse tipo de conteúdos e experiências publicados em blogs e redes sociais.
A publicação on-line das nossas vidas oferece-nos uma integração numa grande comunidade e, em alguns casos excepcionais, reconhecimento e sucesso financeiro. Numa fusão de vida pessoal e profissional, os poucos que atingem o estrelato através da inscrição permanente no seu próprio “reality show” vivem numa luta constante para manter a relevância.
Seguindo as tendências, fazendo desafios e até mesmo as danças mais populares, produzem entretenimento que perde o seu valor a cada repetição – daí a urgência de estar sempre em cima do acontecimento e em constante actividade. A necessidade de comunicar o que estamos a fazer da forma socialmente mais relevante, rapidamente se torna mais importante que apreciar o próprio momento.
Tirar “aquela” foto para partilhar, dizer ou fazer algo para obter aceitação e reconhecimento do colectivo pode ser um negócio para alguns e uma aspiração para outros. Mas a liberdade de poder fazer aquilo que realmente queremos, sem ter de informar ninguém, é realmente algo que cada vez menos valorizamos.
Para os nossos pais seria realmente uma afronta, nos seus tempos de juventude, serem obrigados a carregar consigo um dispositivo de rastreamento permanente e informar constantemente todos os seus familiares e amigos daquilo que estão a fazer a cada momento. Hoje em dia, muitos jovens sofrem a ansiedade de deixar os seus smartphones em casa.
A actual sociedade, não só vive carente de reconhecimento público, com está em permanente superexposição, esquecendo-se do verdadeiro valor da privacidade. Por isso partilho a indignação do famoso artista de rua anónimo de pseudónimo Banksy: «Não percebo porque é que as pessoas gostam tanto de tornar públicos os detalhes de sua vida privada; eles esquecem-se que a invisibilidade é um superpoder».