Eu sei, são quarenta anos no universo das tecnologias de informação, mas nada nem ninguém me conseguirá actualmente convencer de que o uso em Portugal de uma aplicação de rastreio e informação COVID-19 possa trazer consigo mais benefícios que efeitos nocivos.
Pessoalmente, não confio rigorosamente nada na generalidade dos tratamentos de informação da maioria dos serviços que têm por missão o papel de guardião de dados em Portugal. Estamos num país onde, com um mínimo de engenharia social, se consegue obter informação da mais variada espécie.
E nem é preciso um arrombador de fechaduras, até porque parte delas se abre com um safanão. A bom entendedor, meia palavra-passe basta. Aceder à informação existente nos variados organismos que a coligem e que possa, por qualquer razão, estar incorrecta, no sentido de a modificar, é um pesadelo, pesadelo em que muitas vezes uma vida não basta para resolver.
Pessoas que levam anos de calvário a tentar provar que estão vivas (quando foram “mortas” por um erro de IT muitas vezes causado por esse mesmo Estado), são apenas um pequeno exemplo de um rol demasiado longo. A correcção de qualquer erro conjuntural de informação que “marque” alguém como potencialmente infectado constituirá em Portugal uma tarefa hercúlea de correção. Depois de um eventual erro (ou acção maliciosa sobre um sistema), o estigma social e a enormidade de perigos vários (alguns deles sem remédio!) que podem potencialmente ser causados a um infeliz qualquer, são assustadores.
Erros que já sucederam, isto sem uso de app, com custos morais incríveis. Dois meses depois do início desta crise já houve agressões físicas a alegados infectados. Já foram revelados dados e identidades de pessoas às quais o Estado diz garantir protecção. Imaginem com massas de grandes quantidades de dados a serem processados.
Actualmente, a revelação não identitária de infectados por freguesia é suficiente para pôr o que me resta de cabelo em pé. É tremendamente alta a possibilidade de erro. Seja nos Anjos ou na Ribeira do Arcozelo.