Licenciou-se em Engenharia Informática, com um mestrado e. Raquel Porciúncula especializou-se em segurança da informação e hoje assegura que nesta área o SLB está em conformidade com leis e normas.
O que a levou a escolher seguir carreira numa área tecnológica?
A tradição familiar era a Medicina. No entanto, não me sentia vocacionada para essa área. Optei pela Engenharia e, por indicação do meu pai, cingi-me a dar preferência a Engenharia Civil ou Informática. A eleição recaiu sobre Engenharia Informática, por uma percepção de que seria interessante, mas, para ser franca, fui ao desconhecimento.
Foi a única mulher a terminar o curso no seu ano. É possível mudar este cenário?
No meu curso existiam 150 vagas, das quais apenas nove foram preenchidas por mulheres. No final da formação académica, fui a única mulher do meu ano a terminá-lo. Acredito que isto se deva ao facto de os três primeiros anos serem muito técnicos, o que gerou imensas desistências. Isto foi há cerca de quinze anos. Hoje as mulheres são uma presença mais activa e constante na área, mas ainda muito aquém das expectativas e necessidades.
Segundo especialistas, a maioria das mulheres consideram as Tecnologias da Informação (TI) muito vocacionadas para os homens, e requerem que abdiquem da vida social/familiar para dedicação exclusiva à carreira profissional. É preciso desmistificar este estereótipo e alcançar paridade de géneros. A visão feminina de interpretação dos problemas, a sua intuição, inteligência social e emocional, e a forma como gerem conflitos são determinantes no sucesso das TI.
Para mudar este cenário acho importante a divulgação de casos de sucesso de mulheres nestas funções para abertura de mentalidades. À medida que as mulheres forem servindo de modelos para outras mulheres irá crescer o desejo de ingresso nestas áreas. Isto tornará a força de trabalho mais diversificada e inovadora, além de ajudar a solucionar a falta de profissionais. Segundo um estudo recente, prevê-se a falta de 1,8 milhões de profissionais nestas áreas até 2022.
Que aspectos destacaria no seu percurso até chegar ao SLB?
Iniciei as minhas funções como consultora de segurança da informação, tendo a partir daí, desempenhado funções em algumas empresas de renome, nacional e internacional. Antes de chegar ao SLB, trabalhei numa empresa consultora de origem espanhola onde criei a área de segurança da informação, tornando-me responsável da mesma, com um vasto portfolio em serviços de segurança da informação, na protecção e privacidade de dados e com vários clientes a nível nacional e internacional. Acabei por me tornar sócia desta empresa.
Pertenço a comités que reúnem especialistas de todo o mundo da área da Segurança da Informação, bem como da Cibersegurança e Protecção de Dados. Sou co-editora da norma ISO/IEC 27003:2017 que é um guia para implementação de um Sistema de Gestão de Segurança da Informação, e sou Secretária da nossa comissão técnica CT163 sobre Segurança em Sistemas de Informação a nível nacional.
No ano passado, fui convidada pelo Sport Lisboa e Benfica para criar e gerir uma área de compliance independente, mas complementar à sua área de segurança e cibersegurança.
O que é mais interessante e mais desafiante o seu dia-a-dia de trabalho?
Vivemos numa sociedade de informação onde somos confrontados diariamente com problemas relacionados, por um lado, com um medo irracional do desconhecido e por outro lado porque existem efectivamente ameaças reais, silenciosas e invisíveis aos nossos sistemas de informação.
Presenciamos grandes transformações na nossa sociedade. É necessária uma mudança na forma de pensar e actuar, pois este novo mundo acarreta riscos e dá oportunidades a acções nocivas. Esta ideia torna-se ainda mais marcante se tivermos em conta que cada vez mais somos reféns da tecnologia e já não nos imaginamos sem ela. Existe, assim, uma profunda necessidade de criar uma estrutura corporativa e de segurança que se adapte dinamicamente à necessária constante mudança.