Pequena e delicada mas muito determinada, Fei-Fei Li é um nome que está definitivamente ligado à vanguarda da inteligência artificial, tendo sido também uma das primeiras e mais sonantes vozes a chamar atenção para problemas graves que esta tecnologia pode vir a trazer se nada for feito.
Para a cientista de origem chinesa radicada nos EUA, até agora os algoritmos de IA têm sido criados maioritariamente por homens e, em geral, de uma origem semelhante. Mesmo sem o fazerem de forma intencional, a visão de mundo deste grupo, limitada por representar apenas uma pequena fatia de toda a humanidade, pode afectar tudo o que envolve a utilização da IA.
Os algoritmos e demais formas de IA cada vez mais determinam aspectos do mundo em que vivemos por estarem envolvidos nos mais variados campos de decisão, como na saúde, a determinar tratamentos específicos para doentes, na selecção de recursos humanos ou de pessoas que se qualificam para um seguro de vida, por exemplo, esta limitação poderá agravar as diferenças sociais.
Ao falar no ano passado na Comissão de Ciência, Espaço e Tecnologia da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Fei-Fei Li defendeu uma IA humanizada e baseada em três pilares fundamentais: uma AI mais inspirada na inteligência humana, mais empenhada em potenciar as pessoas (não em substituir-nos) e orientada pela preocupação com o seu impacto nas pessoas.
«Com a orientação certa, a IA tornará a vida melhor. Mas, do contrário, ampliará ainda mais a divisão de riqueza, tornará a tecnologia ainda mais exclusiva e reforçará os preconceitos que passámos gerações a tentar superar», afirmou a cientista. E explicou: «Sem um grupo diversificado de engenheiros, poderíamos ter algoritmos tendenciosos a tomar decisões injustas para destinação de verbas, ou a treinar uma rede neural só com rostos brancos — criando um modelo que teria mau desempenho com os negros. Acredito que se acordarmos daqui a vinte anos e virmos que há falta de diversidade na nossa tecnologia, será um cenário catastrófico».
Fei-Fei Li acredita que se forem feitas mudanças fundamentais na engenharia da IA e, sobretudo, em quem a faz, esta será uma ferramenta transformadora e positiva, realmente a trabalhar para o bem da humanidade. E é isso que tem procurado fazer seja no recém-criado Stanford Institute for Human-Centered Artificial Intelligence, de que é uma das directoras, seja na instituição sem fins lucrativos AI4ALL, de que é fundadora, que se dedicada ao recrutamento de mulheres e pessoas negras para que se tornem construtoras de IA.