Quem segue esta coluna terá percebido que, no mês passado, me dediquei aos “segredos” Apple que não o eram exactamente. Com a excepção da solução do âmbito “fintech”, já tudo era mais ou menos sabido antes de anunciado. Escrever “anunciado” é um pequeno eufemismo para um “haveremos de vir a ter um serviço” em que não se anuncia com precisão quando arrancará…
A grande questão é saber se a Europa (principalmente, a Europa) vai ser receptiva a algo que tem concorrência de peso (a quota Netflix é sólida e parece disposta a aguentar o embate mesmo que este se chame ‘Apple’…).
A maçã deitou mão de um naipe de nomes para o “show off” do “vamos fazer” mas só o tempo o comprovará. Vai haver uma “barragem” de produtos com meia dúzia de “âncoras” que assegurarão algum interesse inicial e tentarão de algum modo fixar o consumidor no serviço. A não ser que o marketing tenha algum trunfo muito importante na manga, não me parece que haja aqui algo de muito novo a introduzir.
O serviço que mais me fez reflectir (até mesmo antes do anúncio) foi o das subscrições de imprensa. E aqui, não tenho qualquer dúvida de que, para os produtores de conteúdo europeus (os editores), não é exactamente uma grande notícia. A grande luta dos editores de papel (que arrastam consigo as edições electrónicas) é a fixação de assinantes. Desviar da banca para a assinatura é o objectivo ‘número um’ de um publisher. Fixar receita (antecipando-a), fixando o leitor e deixar de depender de uma compra física regular mais ou menos aleatória. Entregar receita a terceiros (neste caso à Apple), não é negócio para o editor em si.
Para o cliente, sem dúvida. Só se eu não estiver na posse do meu juízo perfeito é que direi não a uma “troca” entre subscrições dos títulos que assino individualmente por um pacote de títulos que potencialmente nunca assinaria devido ao custo acumulado. Mas isto para o editor significa uma “fuga” de assinantes e consequências diversas, nenhuma delas muito agradável. O mercado já está débil por muitas e variadas razões e isto não é de todo um bom negócio para quem publica e já tem uma base de assinantes interessante.
«Mas oh, Pedro, uma plataforma de subscrição global vai abrir portas de milhões de leitores potenciais em todo o mundo!» (Isto dito assim até parece verdade, só que o não é…). Será assim tão interessante para o publisher ter o seu título presente no mercado de língua estrangeira? Em que quantidade de pessoas despertará interesse a existência de conteúdo em língua portuguesa? Veremos. Mas não acho que os editores portugueses estejam impacientes por isto…