Há algum tempo que têm vindo a surgir notícias que dão conta que a Microsoft está a desenvolver uma versão “light” do Windows. Os rumores surgiram devido ao facto de terem aparecido muitas referências em várias versões de teste do Windows 10, que têm sido distribuídas através do programa Windows Insider, que tem como objectivo testar as novidades do sistema operativo em ambientes reais.
Este mês surgiram as primeiras confirmações que o Windows Lite seria um produto real e que tem como objectivo ser o concorrente do Chrome OS da Google, que o Windows 10 S nunca foi.
A pergunta que se impõe é: A quem se destina o Windows Lite? Como se viu com o Windows 10 S, os esforços da Microsoft para criar um sistema operativo capaz de concorrer com Chrome OS no mercado da entrada de gama e educação não foram bem-sucedidos. A principal diferença para o passado estará no rumor que indica que o Windows Lite vai romper com a herança do sistema operativo que ajudou a construir a Microsoft de hoje e que nem se irá chamar “Windows” quando for anunciado oficialmente.
Um dos principais obstáculos que a Microsoft terá de ultrapassar para conseguir criar um produto baseado no Windows é que a marca já tem tanta “bagagem” que faz com que os utilizadores tenham expectativas que não podem ser alcançadas com um sistema operativo mais “leve” que a versão completa do sistema operativo. Quando alguém compra um dispositivo Windows espera que seja capaz de fazer coisas como executar outros browsers, como o Chrome, e todas as aplicações para Windows que não estão na loja da Microsoft. A conclusão a tirar é que, para que a Microsoft consiga ser bem-sucedida na concorrência com o Chrome OS ou mesmo com o iOS, terá mesmo de se desfazer da marca “Windows”.
Ao fazer isto, a Microsoft abre a porta a algo mais que baixar as expectativas em relação às aplicações que podem, ou não, ser utilizadas. Também permite à empresa experimentar novas hipóteses no que respeita à experiência de utilização. Os utilizadores do Windows são algo conservadores e esperam que o ambiente de trabalho tenha uma barra de tarefas e um botão que dê acesso ao menu principal do sistema operativo, como se viu com o Windows 8. Não chamar “Windows” ao próximo sistema operativo pode ajudar a resolver este problema.
Voltando à questão inicial de quem será o utilizador padrão de um Windows menos poderoso, a resposta será que são as pessoas que não necessitam de dispositivos que ofereçam todas as capacidades de um computador Windows tradicional. São os clientes que compram iPads e que conseguem visualizar-se a cumprir os objectivos a que se propõem apenas com esse dispositivo. Que é o mesmo “mindset” das pessoas que compram dispositivo Chrome OS. Essencialmente máquinas capazes de cumprir os objectivos mais básicos que se esperam de um dispositivo digital.
O facto é que nem toda a gente precisa de um computador que ofereça toda a retro compatibilidade que um computador tradicional Windows oferece. Precisam de escrever, ouvir música em streaming ou localmente e falar com os amigos nas redes sociais. Isto já a acontece com uma grande percentagem de pessoas que compram computadores hoje em dia. E, como se consegue compreender, um computador tradicional com um sistema operativo completo é simplesmente demais para fazer fazer só isto. Fora de Portugal o Chrome OS tem vindo a ocupar este espaço lenta, mas seguramente e o iPad já o faz desde sempre.
O que é que o Windows Lite pode querer dizer para estratégia da Microsoft a médio prazo?
Decerto que o Windows Lite também irá ser uma parte muito importante da estratégia da Microsoft para a educação, principalmente nos Estado Unidos. A empresa não pode simplesmente entregar este mercado ao Chrome OS e iOS. Contudo, o Windows 10 em si mesmo já não é suficiente para vingar neste segmento tão importante. O que as escolas querem é uma plataforma o mais fechada possível e que seja fácil de manter. O Windows 10 pode ser fechado facilmente para impedir utilizações abusivas, mas não é, de todo fácil de manter.
O Windows Lite irá depender muito da web, que estará ligada intimamente às experiência de utilização do sistema e, quase de certeza. que a Microsoft vai incluir as aplicações online do Office nesta experiência de utilização. Aliás, nas últimas builds do Windows 10, já estão incluídos links no menu Iniciar que dão acesso directo às aplicações do Office online o que deixa antever planos para a sua inclusão no Windows Lite com muito mais protagonismo.
O Windows Lite irá competir directamente com o Chrome OS, mas também com o Google Docs. A ligação entre o Chrome OS e o Google Docs é muito intima o que faz crer que o mesmo irá acontecer entre o Windows Lite e o Office Online. Naturalmente que a Microsoft não quer perder quota de mercado nas aplicações de produtividade para o Google Docs. O conjunto de aplicações da Google tem uma certa vantagem porque é completamente gratuito e pode ser utilizado em praticamente todas as plataformas. Isto tem um grande apelo para escolas e empresas. A Microsoft também tem uma versão semelhante do Office, mas não é tão conhecida.
O Windows Lite será um sistema operativo para utilizadores casuais, educação e para quem não necessita de um sistema operativo que tenta dar resposta a todas as necessidades dos utilizadores, por mais obscuras que sejam. Se for uma pessoa que lê email, escreve, faz apresentação, ouve música com o Spotify e vê vídeos no Netflix, então o Windows Lite é para si. Mas também lhe pode ser vir uma máquina com Chrome OS ou mesmo um iPad.
A Microsoft está a tentar fazer um sistema operativo Windows, sem todo o património que esse nome implica, para apelar uma geração de utilizadores que não têm as mesma necessidades que os que vieram antes.