Entre o Red Dead Redemption original e este segundo episódio estão oito anos. Durante este tempo a tecnologia gráfica, poder de processamento e resolução máxima das consolas evoluíram muito. Hoje em dia, um jogo AA que não seja 4K com HDR já não é concebível. Por isso, a Rockstar Games aproveitou estes anos para refinar os gráficos de Red Dead Redemption a um nível de detalhe que, francamente, nunca vi num jogo deste tipo. Mesmo os títulos desenvolvidos pelos estúdios dos próprios fabricantes das consolas (que tipicamente servem de montra para as capacidades do respectivo hardware, como o último remake de God of War, no caso da Sony, ou Forza 7, no caso da Xbox One) não conseguem chegar perto do detalhe de Red Dead Redemption 2 (RDR2).
A Infocapital, empresa que representa a Rockstar em Portugal, enviou-nos a versão para PS4, mas eu testei o jogo na Xbox One X num televisor 4K com HDR, que é considerada pela maioria a plataforma onde este jogo brilha de verdade. A razão prende-se com o facto de a Xbox One X oferecer a possibilidade de jogar em resolução 4K nativa, ao contrário da PS4 Pro, que utiliza uma resolução mais baixa e depois, através de pós-processamento, eleva a resolução a 4K. Experimentei as duas versões e as diferenças notam-se, principalmente, na nitidez dos objectos. Em termos de frame rates, a Xbox One X oferece um desempenho mais estável que a PS4 Pro. Isto pode ser atribuído à maior capacidade de processamento da consola da Microsoft.
E que brilho! Quando andamos pelas plantações do sul dos Estados Unidos ao nascer do dia e vemos a neblina que paira junto ao chão, percebe-se porque é que é na Xbox One X que este jogo deve ser jogado. Posso mesmo dizer que, em certos casos, apesar de o PC ser incomparavelmente uma melhor máquina de jogos que qualquer consola, quanto mais não seja pelas capacidades gráficas muitíssimo mais evoluídas dos GPU dos computadores, a atenção ao detalhe e a optimização que a Rockstar aplicou aos gráficos em RDR2 conseguem minimizar quase todas as limitações que o hardware das consolas pode ter.
A história
Red Dead Redemption 2 passa-se no sinal do século XIX, antes do jogo original, e segue a história do cowboy-bandido Arthur Morgan. E esta é uma história de lealdades duvidosas e de ideais ultrapassados. Algumas personagens do jogo original estão de volta em RDR2 (só que mais novas), incluindo John Marston, o herói do jogo original, que tem um papel essencial no desenrolar da história de Arthur Morgan.
Como já disse, RDR2 é um jogo, mas também uma obra de arte que demorou oito anos a ser concluída. E tal como todas as obras arte, também este jogo é fruto de muitas horas de trabalho intensivo, de avanços e recuos. Tudo isto nota-se no produto final e, apesar de ter saído há relativamente pouco tempo, já merece estar no Top 10 dos melhores jogos para consola de sempre e mesmo na lista dos melhores jogos de todos os tempos em qualquer plataforma.
Muito que explorar
A atmosfera de RDR2 faz lembrar, em certas alturas, os western spaghetti dos anos 60 e 70 do século passado, em que Clint Eastwood foi uma figura de primeira linha, como em Por Um Punhado de Dólares’ ou ‘O Bom, o Mau e o Vilão’. Mas as parecenças acabam ao fim de algum tempo de jogo e coisa passa do estereótipo para algo mais profundo e sério.
O mapa de RDR2 é gigante, muito maior que o de GTA V, e tem um pouco de, praticamente, todos os cenários imortalizados nos filmes de cowboys, desde montanhas cobertas de neve, a zonas tropicais com plantações de algodão, inspiradas pelo sul dos Estados Unidos, passando por desertos com paisagens imponentes e campos de exploração petrolífera, quase iguais aos da cenografia do filme ‘Haverá Sangue’ de Paul Anderson.
Tudo isto está à disposição para explorar e não só. Existem missões espalhadas pelo mapa, que podem trazer vários tipos de recompensas, como por exemplo ofertas dos lojistas que vamos encontrando nas várias cidades que visitamos depois de salvar a vida de um qualquer NPC que esteja em apuros. Tudo muito aleatório, como na realidade.
Depois há as 104 missões principais que, se forem feitas todas de seguida, podem demorar cerca de sessenta horas a completar – aqui há assaltos a bancos, tiroteios, duelos na rua principal de um qualquer vilarejo perdido nos confins do oeste e perseguições, muitas perseguições. Mas não pense que RDR2 está cheio daquelas missões que consistem apenas em sermos pombos correios para levar um qualquer objecto do ponto ‘A’ ao ponto ‘B’. Há coisas mais complicadas e engenhosas, como encontrar uma forma de ensinar um jovem a pescar.
No que respeita a missões secundárias, também tem muito que fazer, como caçar animais (que implica uma série de procedimentos para encontrar as presas), missões para actualizar várias instalações do seu acampamento (como a cozinha, paiol ou enfermaria) e que vão influenciar a forma como Arthur se comporta e as suas capacidades durante o resto das missões. A história de RDR2 está cheia de volte-faces que o vão manter colado no ecrã até ao fim. E no fim há um epílogo com 15 horas…
Nos tiroteios a acção pode ser mudada para a primeira pessoa para uma experiência mais intensa. Como no primeiro episódio há partes dos duelos que se passam em câmara lenta, o que dá mais hipóteses de acertar nos alvos. A gestão do inventário foi decalcada de GTA V, com uma roda que serve para escolher as armas que quer usar a dado momento. No entanto, uma coisa que não existe em GTA: o inventário secundário, onde encontra outros itens que nada têm que ver com armas, como por exemplo comida e bebida. Em RDR2 tem de comer de vez em quando para reestabelecer o seu ‘stamina’. Se não o fizer, mover-se-á mais devagar.
Existe um terceiro inventário que, na prática, é aquilo que o cavalo transporta. Quando chega a um determinado local e desmonta do cavalo e se esqueceu, por exemplo, da caçadeira, terá de voltar ao animal para a ir buscar. Por isso, nunca se esqueça de escolher as armas mais adequadas antes de entrar em acção.
O nível de detalhe está presente em aspectos tão pequenos como a barba de Arthur que, se não visitar regularmente os barbeiros espalhados pelo mapa, cresce tanto que ele deixa de se parecer com um cowboy e começa a perecer-se mais com um náufrago. E, tal como acontecia em GTA V, se não comer emagrece.
O som não fica atrás da qualidade dos gráficos com uma excelente e oportuna selecção de músicas da responsabilidade do mesmo autor que tinha já trabalhado no primeiro episódio.
Ponto final
O que dizer disto tudo? Red Dead Redemption é um excelente jogo single-player e prova o que já digo há muito tempo: não é necessário multiplayer para se conseguirem jogos espectaculares. A história está muito bem construída e a mecânica dos duelos está quase perfeitamente adaptada a tentar apontar e disparar correctamente uma arma através de um comando de uma consola.
+ Construção do mundo
+ Atenção ao detalhe
+ História
Gráficos: 10
Som: 10
Jogabilidade: 9
Longevidade: 10
Nota final: 10
Editora: Rockstar Games
Distribuidora: Infocapital
Contacto: rockstargames.com
Disponível para: Xbox One, PS4
Versão testada: Xbox One
Preço: €69,99