Surpreende-me sempre o pânico colectivo com que são recebidas as notícias de quebra de privacidade da informação partilhada nas redes sociais. Não deveríamos ficar contentes com a confirmação de que existem, de facto, várias pessoas/entidades que estão atentas ao que estamos a dizer e partilhar on-line? Com o facto de se lembrarem de tudo e, inclusive, criarem respostas personalizadas para nós? Não é esse o propósito das redes sociais? Ou tudo isto deixa de ser verdade quando os nossos “amigos” deixam de ser os que reconhecemos e passam a integrar grupos de analíticas e algoritmos de inteligência artificial?
Se as respostas que recebemos, são o resultado de uma ponderação sintética com o propósito de “reprogramar” as nossas opiniões, estas perdem a sua legitimidade existencial? Até que ponto uma informação pode ser considerada privada depois de a partilhamos socialmente on-line?
São tudo perguntas que só encontram uma verdadeira resposta na leviandade com que marcamos a nossa pegada digital e, principalmente, nos propósitos com que expomos as nossas vidas em plataformas de comunicação privadas que retêm, trabalham e redistribuem essa informação como principal fonte de lucro.
É claro que a abstenção da presença de um qualquer indivíduo nas redes sociais “da moda” é um factor crítico para a sua infoexclusão. A integração no “grupo” dita à necessidade constante de reportar o que fazemos, como nos sentimos e com quem estamos. Somos constantemente estimulados pelo facto de termos mais observadores do nosso quotidiano partilhamos e orgulhamo-nos de receber respostas dos outros, ou ainda melhor, de ter o nosso momento repartilhado por eles.
O sucesso comercial das redes sociais deve-se, exactamente a esta necessidade primária de integração que nos coloca numa incessante missão de comparação e aprovação colectiva, que se reflecte em tudo o que fazemos, numa espiral de partilhas aparentemente cada vez menos relevantes, que contradiz por completo os princípios básicos de uma boa gestão de reputação on-line.