O entusiasmo sueco por uma sociedade sem moedas arrefeceu. A ideia de viver sem trocos a chocalhar no bolso parecia bastante apelativa ao início, mas o facto de ter todas as transacções monetárias registadas digitalmente deixou estes escandinavos de pé atrás. E se alguém desligar a ficha ao sistema, o que é que acontece?
Imaginem que as vossas transações são controladas pelo Governo. E esse Governo é a China, que já tem em vigor um Sistema de Crédito Social, que premeia os cidadãos de confiança e pune os desobedientes. Se fizermos compras numa empresa estrangeira, em detrimento de uma nacional, perdemos privilégios? Se criticarmos a companhia aérea do Estado poderemos ser penalizados com mais taxas, ter um lugar pior no avião ou a não termos direito a uma daquelas refeições fantásticas que servem durante o voo?
Uma empresa desenvolveu uma Inteligência Artificial que observa as emoções, energia e grau de distração dos condutores, para evitar comportamentos que resultem em acidentes. Mas, e se aplicarem o mesmo sistema no local de trabalho? É mais que o controlo dos hábitos online dos trabalhadores, mas a observação directa da sua actividade. Se for um trabalhador menos empenhado perco pontos no meu crédito social?
É a gamificação – desculpem o palavrão – da cidadania e, como sabemos, nos jogos perdemos mais vezes que ganhamos. Um modelo social deste tipo seria um anestésico que nos manteria dóceis e funcionais sob o olhar de uma testemunha permanente. Esqueçam a falta de likes nos vossos posts, isto é bem mais eficaz.
Epicuro disse para fazermos tudo como se estivéssemos a ser observados. Eu prefiro dançar como se ninguém estivesse a ver.