Pelo que escuto de múltiplas fontes, a Apple não tem estado parada na organização dos seus processos industriais. O que pode fazer um gigante assim tão diferente de produtos? Pode preparar-se para ser ainda mais autónomo, mais livre de preços de componentes e até de matérias-primas.
Não é novidade que a Apple estabeleceu contactos negociais com as próprias empresas mineiras para assegurar preço e fornecimento de cobalto, o metal componente de baterias que mais tem sofrido agravamento de preços em função de uma procura industrial cada vez maior.
A tecnológica é “só” o maior consumidor actual de cobalto da indústria mundial, mas esse cenário pode mudar (vai mudar) com a entrada em cena dos fabricantes de automóveis. Assim sendo, atempadamente, prepara-se o futuro desse vector. Não falta cash para bater na mesa numa negociação deste género (e Portugal está, com toda a certeza, neste round, porque somos detentores de vastas reservas de matéria-prima deste sector – e não será exagerado dizer que o lítio, por exemplo, pode bem vir a ser o novo volfrâmio).
Outra das áreas em que a Apple é dependente de fabricantes externos é a de ecrãs LED. Uma fatia pesadíssima do custo industrial de produção de um equipamento Apple (e são poucos os que escapam a este crivo) são precisamente os ecrãs.
Ora, assim, não espanta que as principais fontes de informação económica dêem como certa a pista de que a Apple está a manter em segredo um centro de desenvolvimento de ecrãs MicroLED, que já terá produto apontado ao Apple Watch, embora ainda numa fase muito inicial. Isto, só por si, significará margem, mas também vastas doses de dores de cabeça para muitos dos seus fornecedores orientais que perderão, assim, uma enorme fonte de receitas em dois items cada vez mais fundamentais na guerra entre fabricantes.
A mão de obra, essa, permanecerá onde for mais barata. Mesmo que Tim Cook tente dar um ar de humanização ao fabrico, afirmando que a China já não é uma «questão de preço» mas de «especialização».