Ando a ler o The Sound of the City, de Charlie Gillet, um dos melhores livros de sempre sobre música (sim, em papel). Publicado originalmente em 1971, é um compêndio da história do rock, desde as origens à sua afirmação após a Segunda Guerra Mundial como música de eleição desse segmento de mercado criado na altura: os adolescentes, conhecidos agora como os avós dos millenials.
É fascinante, mas maçudo. O anterior dono do exemplar que tenho, pelos vincos nos cantos das folhas de três em três páginas, ou sofreu com a genealogia quase bíblica dos artistas e das editoras, ou terá lido o livro várias vezes. As referências são muitas – só as últimas cem páginas são índices de nomes de músicos, bandas, bibliografia, notas.
Às vezes, esquecemo-nos de que as redes sociais sempre existiram, apenas não eram digitais: eram lojas de discos, concertos, os amigos que gostavam da mesma música, as revistas especializadas.
Mesmo com todo o meu conhecimento musical, há canções que me escapam (Drinkin’Wine Spo-De-O-Dee, Stick McGhee, por exemplo). O que era bom mesmo era ter a playlist que vem no final do livro pronta a ouvir. Fui procurar. Uma alma caridosa compilou as 371 faixas (mais de 18 horas: spoti.fi/2FNePE5) no Spotify, e passou a ser o meu herói.
E se vivesse em 1971? Onde encontraria essas centenas de discos? Como iria ler sobre música sem ter acesso a ela? Como se vivia quando não estávamos umbilicalmente ligados pelas redes sociais, sem acesso à Wikipedia e ao YouTube? Como é que sobrevivemos assim tanto tempo? Às vezes, esquecemo-nos de que as redes sociais sempre existiram, apenas não eram digitais: eram lojas de discos, concertos, os amigos que gostavam da mesma música, as revistas especializadas.
Mas não sou nostálgico. Até porque só conheço este livro de uma lista num site e o comprei barato online. Tenho o melhor de dois mundos.