A quantidade de informação acerca dos seus hábitos e historial de navegação que transmite sem dar por isso quando navega pela Internet é tão grande que, se a conseguisse ver, assustava-se. Existem algumas formas mais ou menos complicadas de assumir controlo dessa informação. Uma das mais simples é através da utilização de uma Virtual Private Network, ou VPN.
O que é uma VPN?
Simplificando, uma VPN cria um «túnel» encriptado entre o seu computador e um servidor que é operado pela empresa responsável pelo serviço. Todo o seu tráfego é encaminhado através desse túnel, estado por isso a salvo de quaisquer intercepções ao longo do caminho. E mesmo que seja interceptado é mais difícil detectar o ponto de origem desse tráfego de informação. Quando os seus dados chegam ao servidor VPN, entram na Internet pública e o servidor VPN age como se fosse o seu computador e liga-se ao site que quiser ver ou ao serviço que quiser usar.
A maioria dos utilizadores confiam implicitamente nas redes wi-fi públicas e ligam-se sem pensar duas vezes, mas essas redes são inerentemente inseguras, quanto mais não seja porque não se sabe quem pode estar vigiar o tráfego de internet que passa por elas. Na prática usar uma rede pública para ver o seu saldo bancário ou aceder a uma rede social, é quase como “entregar o ouro ao bandido” porque a informação de login pode ser facilmente interceptada e usada por terceiros. O problema descrito acima pode ser minimizado, ou mesmo eliminado, se tiver um serviço de VPN instalado, isto porque os dados são encriptados logo à saída do seu dispositivo e durante todo o caminho que fizerem pela Internet e só são desencriptados pelo site de destino.
Outra situação em que as VPN são úteis é nos casos de acesso a sites bloqueados. Há muito tempo que em Portugal está em vigor um sistema que permite o bloqueio de sites de uma forma mais ou menos arbitrária. Estes bloqueios podem ser facilmente ultrapassados através da alteração do endereço do servidor DNS da sua ligação à Internet. Como muita gente sabe. No entanto, existem situações em que essa alteração pode não ser possível ou aconselhada. Aqui os serviços de VPN podem dar uma ajuda, porque a grande maioria deles permitem ao utilizador escolher o país em que o túnel emerge para a Internet pública o que efectivamente faz com que os bloqueios locais sejam ultrapassados. Neste caso, a utilização de uma VPN tem a vantagem adicional de manter o anonimato das ligações.
Independentemente da plataforma que utilize (Windows ou Mac), as VPN funcionam mais ou menos da mesma forma e, se não quiser usar o software de VPN integrado no próprio sistema operativo, as empresas que fornecem estes serviços oferecem software para as duas plataformas. Já no caso dos dispositivos móveis iOS e Android, apesar da maioria das operadoras de VPN disponibilizarem apps para este efeito, pode haver alguns problemas de compatibilidade com as redes de dados móveis que tornam as ligações instáveis. Apesar das aplicações de VPN para dispositivos móveis serem mais ou menos iguais, independentemente da plataforma, muitas vezes os protocolos de encriptação utilizados são diferentes visto que a Apple requer que as versões para iOS destas aplicações utilizem encriptação de última geração mais robusta.
O que uma VPN não faz
Apesar de instalar e usar uma VPN na sua máquina para se manter anónimo na Internet, existem sempre formas de controlar o que faz online, como por exemplo através de cookies que permitem a serviços como a Amazon, Facebook ou Google terem uma ideia das suas actividades.
Como todas as tecnologias, também as VPN têm limitações, mesmo no que respeita à garantia da privacidade dos utilizadores. Se quiser mesmo ficar completamente anónimo na Internet, aconselhamos a utilização do sistema TOR que, para além de encriptar as comunicações, estas são encaminhadas por uma série de pontos na rede, o que faz com que a possibilidade de se saber o ponto de origem se reduza substancialmente. Existem alguns serviços comerciais de VPN que utilizam o TOR para oferecer um maior grau de segurança e anonimato.
Outro aspecto, muitas vezes ignorado pelos utilizadores de VPN, é que as empresas que operam estes serviços não são propriamente instituições de caridade que têm como objectivo principal fazer o bem só porque sim. O objectivo final é sempre o lucro. Isto quer dizer que há sempre que manter o equilíbrio entre o deve e o haver e estão sujeitas às mesmas leis que regem todo o resto da sociedade. Por isso, podem ter de acatar ordens judiciais que levem à divulgação dos dados pessoais dos utilizadores. Por isso, se quiser contratar um destes serviços convém que leia os termos de utilização e as políticas de privacidade para descobrir de onde é que essas empresas operam para ter uma ideia do grau de liberdade de funcionamento têm.
Por fim, se quiser manter a sua informação segura tem de ter um computador limpo de vírus e outro malware que possa transmitir os seus dados para pessoas indesejáveis. Se tiver uma máquina infectada, não há VPN que lhe valha.
Nem tudo são rosas
A segurança e privacidade não têm de ser o contrário de conveniência, no entanto existem algumas dificuldades na utilização de muitas tecnologias que advêm da utilização de serviços de VPN no dia-a-dia.
Por exemplo, se usar dispositivos de streaming, como o Chromecast ou AppleTV, cujo o tráfego é feito quase exclusivamente através da sua rede local. Se quiser enviar um stream do seu computador com uma VPN para o seu dispositivo reprodutor de streams, esse dispositivo pode não reconhecer os dados e não reage. Outro problema prende-se com a utilização de dispositivos IoT que podem também estar a emitir dados através da Internet que quer manter privados. Infelizmente estes produtos não conseguem usar VPN directamente. A forma mais simples de resolver estas duas dificuldades é instalar uma VPN no seu router de Internet se este suportar. Isto faz com que todos os dados que saem da sua rede doméstica sejam encriptados automaticamente independentemente do dispositivo que os estiver a emitir.
Existem serviços que simplesmente não gostam nada de VPN, como o Netflix. Isto tem a ver com uma política (completamente obsoleta), de bloquear conteúdos em certos países e permiti-los noutros. O facto de um utilizador de VPN poder escolher o país onde a sua ligação está, nega esses bloqueios. Por isso, por pressão das distribuidoras de conteúdos, a Neflix foi obrigada a implementar um sistema que impede a utilização de VPN. Existem alguns serviços que conseguem dar a volta a este bloqueio, mas tudo sem qualquer compromisso, porque o que hoje funciona, amanhã pode deixar de funcionar.
Outro problema um pouco mais complicado é o dos downloads através do protocolo Bittorrent. Embora a sua utilização não seja ilegal, o Bittorrent já é sinónimo de pirataria de conteúdos. Por isso, para evitar problemas legais, alguns operadores de VPN impedem de todo a utilização de Bittorrent ou limitam as ligações a servidores em países específicos.
Por fim a velocidade. Como as ligações através de VPN não são directas, a velocidade do tráfego, quase sempre, é sacrificada. Os tempos de ping aumentam e as velocidades de upload e download descem. Por isso a utilização de VPN por jogadores online não é aconselhável porque introduz lag que pode mesmo tornar alguns jogos injogáveis.
Se quiser contratar um serviço deste tipo, aqui fica uma lista com as melhores ofertas. Esta lista, apesar de extensa, não tem absolutamente todas as ofertas no mercado mundial.
Antes de escolher fica um conselho, fuja das VPN gratuitas. Se quiser aproveite os períodos de teste para ver se as VPN estão de acordo com as suas expectativas, mas não as use serviços gratuitos por sistema.