Terminada a Web Summit, é altura de processar a overdose de informação e analisar o evento. Aqui o balanço é feito sob o olhar de uma nómada digital, criadora de conteúdos, blogger e tech lover, que se empenha em aproximar as mulheres do mundo da tecnologia.
«Shut up and sit down»
Esta era a letra da vinheta que tocava entre cada apresentação/orador nos vários palcos do evento. E é com ela que começo. É uma frase de quem não tem tempo a perder e eu preferi não perder muito tempo a ouvir e a ler aquilo que os mais cépticos tinham a dizer sobre a Web Summit.
Preferi ver com os meus próprios olhos e tirar as minhas próprias conclusões. E, sim, era uma letra antipática, mas eficiente. A música tinha um tom tão suave que muitos demoraram a perceber o que é que a letra estava a dizer. Compreendendo ou não, todos se despachavam pois havia muito para ver e nenhum tempo a perder.
Sem ligação à Internet
No seu discurso de abertura, Paddy Cosgrave quis que todos acedessem ao Facebook – mas ele próprio não conseguiu aceder à Internet. Podia ter sido um mau presságio. Mas não foi. É verdade que a abertura podia ter sido mais excitante, mas valeu sobretudo por reunir no palco os CEO das start-ups portuguesas presentes no evento. É sempre bom ver tantos empreendedores nacionais juntos.
Orquestra afinada
O mau presságio não só não se cumpriu como, pelo contrário, foi superado por uma organização exemplar. Entre gerir a mudança diária das start-ups agrupadas nas ilhas temáticas (cada uma das 1490 start-ups inscritas teve apenas um dia para expor os seus projectos) e administrar os vários palcos, cada um com dezenas de oradores por dia, havia ali muito por onde dar errado… e não deu! Alguns palcos mudaram de temática entre um dia e o outro e mesmo assim, com uma sinalização eficaz e o recurso à app, foi fácil encontrar o que queríamos. Mais difícil foi escolher entre tantas opções e ainda ter tempo para ver as start-ups e os seus projectos.
Nem tudo são rosas
Pelos diversos palcos da Web Summit passaram algumas das principais figuras do mundo digital. Foram mais de 600 oradores, que apresentaram as suas ideias em 24 palcos. Algumas das apresentações foram extremamente inspiradoras, mas a grande maioria deixou aquela sensação de ter ‘sabido a pouco’. Oradores e mesas redondas tinham entre 15 a 30 minutos para as suas apresentações. É difícil aprofundar qualquer tema em tão pouco tempo.
Moderadores e moderadores
Não sei se foi impressão minha mas houve apresentações que perderam o interesse por culpa dos moderadores. Alguns tiveram dificuldade em encaminhar com precisão e dinâmica a conversa para que cada minuto fosse bem aproveitado. O palco Modum foi um exemplo disso. Não só o som era péssimo, como as moderadoras, na sua maioria ligadas à imprensa ou aos blogs de moda/femininos, levaram a que alguns oradores importantes se tornassem monótonos e menos interessantes do que prometiam ser. Em geral, os moderadores com melhor prestação eram aqueles ligados à televisão. Com destaque especial para Laurie Segall, da CNN Money, uma das melhores de todo o evento.
Women in Tech
A organização esforçou-se para que as mulheres tivessem acesso ao evento. Ofereceu convites e criou um lounge para as receber, assim como organizou mesas redondas destinadas aos temas femininos. Infelizmente estes debates requeriam inscrição prévia e limitadíssima, e esgotaram rapidamente. Para quem não conseguiu participar, restou o lounge para descansar e tomar um bom café, mas onde se fez menos networking e se trocou menos experiência do que o esperado. Em relação aos demais palcos, a presença feminina foi próxima da proporção das mulheres nas empresas de tecnologia: reduzida. Neste âmbito, soube-me a pouco.
Inevitabilidade
Não vi tudo o que queria, não falei com tantos quanto esperava, e a meio de cada um dos dias sentia-me exausta com tantas apresentações e deslocações entre palcos. Mas valeu a pena. Digam o que disserem, este foi um evento positivo. Para analisar o presente, para pensar no futuro, para trocar experiências e ter uma visão geral do que se anda a fazer pelos quatro cantos do planeta. Não há volta a dar: quer queiramos quer não, tudo tenderá a passar pela tecnologia e pelo digital. Há muita coisa a mudar e é importante reflectirmos sobre estas mudanças.
E com isto me despeço!
Vivi a Web Summit como quem estreia um smartphone com um sistema operativo que não conhece. Em ambos os casos só conseguimos tirar o melhor partido da situação depois de queimar pestanas para assimilar a dinâmica, perceber as nuances e entrar no ritmo do sistema. Mas gosto de novos gadgets e vivo estes processos com entusiasmo. E com a Web Summit não foi diferente. Mas a verdade é que quando acabou, estava pronta para começar a sério. Tudo bem, em 2017 há mais.